São Cristóvão
O Projeto:Auto-Estima das Crianças Negras foi implantado em São Cristóvão devido a proatividade do senhor Diomar de Sousa Leite, liderança da comunidade com residência em São Luís. Sabendo que o projeto iria ser implantado em Castelo (Alcântara), fez gestões para que o mesmo fosse desenvolvido, também, em São Cristóvão. A comunidade de São Cristóvão se localiza no Município de Viana, foi criado pela Lei 377, de 30.06.1855, e fica a 211 km. de São Luís. De acordo com IBGE a população era estimada, em 1995, em 41.982 pessoas, sendo 16.826 na área urbana e 25.156 na rural. A comunidade, dentro da configuração como remanescente de quilombo12, data de 1906, conforme relato do senhor Diomar: “O marido da Sinhá Sousa vendeu as terras, em 1906, mais ou menos, por 6 mil réis”. E, dona Mafalda, aos 70 anos arrematava dizendo: “minha vó era escrava deles, quem deu galinha deu, que deu porco deu, tá vendo, e compraram aqui o lugar. Agora, contanto que eles ficaram todos, os mais velhos ficaram assinando pelo título dos senhores deles, de Sousa. E agora é tudo Sousa, que veio dos brancos”. (Bittencourt, 1985:40) Porém, o povo vive nesta localidade desde quando existia a fazenda do escravizador Mariano Sousa. Isto, “tem mais de 300 anos” de acordo com depoimento do senhor Diomar.
Localizada a 18 quilômetros da sede de Viana, chega-se a ela através uma rodovia asfaltada de 10 quilômetros e mais 8 restantes, por estrada de piçarra em péssimo estado. Existem 64 casas com 70 famílias e 210 habitantes entre os quais 86 crianças de 0 a 6 anos. De acordo com certidões tiradas, em 15.08.1974, assinada pelo Juiz de Direito Luiz Barrozo, e 24.07.1975, assinada por Raimundo Nonato Campelo, Oficial de Registro no Tabelionato do 1º Ofício de Viana, ambas também assinadas pela Tabeliã/Escrivã e escrevente juramentada Raimunda Conceição Gomes Barros, encontra-se nas “Fls.99 do Lv. Nº 3 h, das transcrição das transmissões o registro seguinte: número de ordem: 2348, Data:09.06.60. Circunscrição: Viana. Denominação: São Cristóvão. Arrolamento: Antonio de Sousa e arrolados Inácio de Sousa, Pedro Galo de Sousa, e nos ditos autos consta as peças, requeridas às fls. 2v (dois verso) 22 (vinte e dois) e 23v (vinte e três verso) e que são do seguinte teor: “ relação de bens: duas (2) posses de terras próprias, no lugar denominado “São Cristóvão”, uma que mede mil cento e vinte cinco (1125) braças de frente, com meia (1/2) légua de fundos e outra setecentas e cinqüenta (750) braças de frente e igual quantidade de fundos, entre as terra “São Miguel” e as de São Sebastião, pelos fundos confinam, com terra da extinta firma “Bento Dias & Companhia”, das terras “São Benedito” assim denominadas, com as da viuva de Luís Jansen Soeiro”. As moradias são, em sua maioria, feitas de taipa, dispondo de energia elétrica, porém, com atendimento precário – falta constantemente e por dias seguidos. A água utilizada é de poço. No entanto, há um poço artesiano que fornece água salobra (servindo umas cinco casas). Para lavar roupa usa-se água do “campo” (área que se alaga nos períodos das chuvas). Na localidade, há uma escola municipal, construída com tijolos tendo duas salas cobertas por telhas de amianto. Não tem cantina e o único banheiro existente é pré-moldado em cimento, sem vaso sanitário - só com um buraco no piso - não tem porta e pia que sirva de lavatório. Esta situado em meio de muito mato. A escola municipal Dinares Pinheiro atende o ensino fundamental, da 1ª à 4ª séries, com professoras ministrando aulas para várias séries. Foi implantado o Avanço Escolar, na comunidade, que atende alunos/as, também do ensino fundamental da 5ª à 8ª séries, em espaço da sede da Associação dos Moradores. O local não esta adaptado e adequado para comportar aulas. È um improviso que está se tornando permanente, até a lousa é daquelas usadas pelas crianças em suas brincadeiras. O quadro de quatro professoras e um único professor é formado por pessoas abnegadas, porém preparadas dentro de paradigmas atrasados em termos didático-pedagógicos, conforme análise da Profª. Ilma Fátima de Jesus, em “Educação, Gênero e Etnia: um estudo sobre a realidade educacional feminina na comunidade remanescente de quilombo de São Cristóvão, Município de Viana, Estado do Maranhão”. Carentes de um fazer pedagógico baseados no pluralismo e na crítica, dentre as cinco pessoas que lecionam na comunidade, somente duas, por serem mais antigas no local, passaram por uma capacitação sobre o papel da educação no resgate da identidade e auto-estima de crianças e jovens negros. Por iniciativa do líder, Sr. Diomar, foi criada a Escola Comunitária Tereza de Jesus Sousa Leite, conhecida como “escolinha”, em 24 de maio de 1993, “com construção de aproximadamente 50 m2, que atende a fase pré-escolar” (Jesus, 2000:217). Neste pequeno local são atendidas as crianças do 1º ao 3º períodos, separadas por ‘divisórias’ que formam três minúsculas salas, medindo cerca de 2 metros por três metros. Outra conquista da comunidade é a sede da Associação dos Moradores de São Cristóvão, local que abriga os apetrechos do Bumba-meu-boi “Nossa União” – um dos mais originais da baixada – localizada em uma praça, em frente à casa do vice-presidente da associação, o Sr. José Manoel, mais conhecido como “Baéco”. A esquerda temos “a igreja nova” cujo teto caiu e em frente a ela , distante uns duzentos metros, esta “a igreja novíssima”, que passou por reforma uma vez que parte de seu teto, também, caiu. Esta última está construída próximo a outra – a “antiga” que ruiu completamente. Nesta praça, que fica nos fundos da casa do Sr. Diomar, também está localizada a torre de alto-falantes, ao lado da casa da bomba, que faz parelha com uma casa de dois cômodos que serve para as atividades da “Rádio Comunitária Cultura Negra de São Cristóvão” e da “Brinquedoteca Casa da Infância da Beleza Negra”. As festas mais importantes de São Cristóvão são: a do Divino Espírito Santo e a da Ascensão, sendo a primeira realizada em novembro e a segunda em maio ou no início de junho. Os mortos da comunidade são enterrados em cemitério localizado na entrada de São Cristóvão. Próximo, mais ou menos uns cem metros, separados por algumas casas, fica um campo de futebol. Adentrando mais na comunidade pela rua principal, encontramos o Barracão ou “barrancão”, como alguns moradores o denominam, onde são realizados os bailes das festas. O barracão fica em frente à casa do Sr. Diomar, a qual é utilizada como alojamento do professor e da professora, mais antigos a lecionarem na localidade, assim como servia para abrigar a Equipe Central do Projeto em sua permanência de três dias quando ficava em campo. Ao lado desta casa fica a “escolinha”. Seguindo adiante, à direita, logo após a casa de dona Andrelina, líder comunitária, encontra-se a Escola Municipal Dinares Pinheiro que tem à frente um espaço gramado. Esta rua finda no “campo” onde se pesca, põe-se mandioca de molho, “banha-se”, lava-se roupa, e que ainda serve de via de acesso à comunidade, por canoa, durante o período de chuva e quando são realizadas as porfias, as competições de barcos, durante a Festa da Ascensão. O povo mostra-se católico, por influência da liderança local, no entanto, em conversas reservadas sabe-se da existência de toques de Tambor de Mina na localidade. O Bumba-meu-boi Nossa União é ponto forte de aglutinação e da identidade cultural dos/as moradores/as de S. Cristóvão e de sua diáspora - na Vila Natal, em São Luís- pois é em torno dele que se juntam crianças, jovens e adultos nos períodos juninos. A atividade econômica, também, de subsistência, provém do cultivo da mandioca, arroz, feijão, da pesca e da coleta e quebra de coco babaçu. Os moradores criam galinhas, patos, perus, cabras, porcos e vacas. Fabricam farinha em duas “Casas de Farinha”. Muitos negócios são realizados na base do escambo nas quitandas, por exemplo: uma quebradeira de coco troca certa quantia de babaçu por óleo, arroz ou querosene.
12 A territorialidade dos remanescentes das comunidades de quilombo configura uma situação particular de especificidade e de alteridade desses grupos, que se constituíram a partir de processos diversos em todo o país: fugas, heranças, doações e até compra de terras em pleno vigor do sistema escravista no país. (pgs. 33 e 34) in Bandeira, M.L. Território Negro em espaço branco. Estudo antropológico de Vila Bela.
São Paulo: Brasiliense/CNPQ. 1988.
terça-feira, 7 de abril de 2009
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